Last Friends possui 11 episódios (além de um pequeno
especial) e foi transmitida originalmente em 2008.
Falar dessa série é difícil... é realmente poucas as obras
que são tão absurdamente densas e tensas como essa... É incrível o leque de
assuntos delicadíssimos que são abordados, contados ao público de maneira
delicada, humana, crua e principalmente, angustiante.
Alguns dos assuntos tratados: Abuso infantil, transtorno de
identidade sexual, incesto, violência doméstica, adultério, crianças em
situação de risco, alcoolismo, divórcio, suicídio, estupro, gravidez não
planejada, abandono de lar, famílias não estruturadas, amor não correspondido.
É pouco ou quer mais?
O grande trunfo da série é, a meu ver, retratar todos esses
assuntos quase como uma forma de denúncia, descrevendo a aparente tranquilidade
e normalidade do dia a dia e das relações humanas e, ao mesmo tempo, explorando
as angústias e medos silenciosos e o que ocorre em portas fechadas.
Toda essa dinâmica é apresentada e costurada pelos laços de
amizade de cinco personagens principais.
Vamos a história:
Aida Michiru (interpretada por Nagasawa
Masami) é uma garota com problemas de confiança e estima, criada em um lar
desfeito pela violência doméstica, acaba por abraçar a oportunidade de morar
com o namorado com a esperança de se sentir finalmente amada e
segura. Entretando, seu namorado, Oikawa Sousuke - igualmente fruto de um lar
desfeito (interpretado por Nishikido Ryo)
acaba por reproduzir a violência em Michiru, espancando-a e manipulando
sua vida.
Neste tempo, Kishimoto Ruka (interpretada por Ueno Juri), que
foi colega de classe de Michiru durante o colégio, entra em cena. Aos poucos é
mostrado que Ruka sofre de transtorno de identidade sexual, onde ela não se
reconhece no corpo feminino que tem. Ela acaba descobrindo as violências que
Michiru sofre e a convence a abandonar o namorado, morando assim com ela e mais
dois amigos: Takigawa Eri (interpretado por Mizukawa Asami) e
posteriormente com Mizushima Takeru (interpretado por Nagayama Eita)
Aos fãs de relações homossexuais, um alerta! A série passa
longe da idealização romântica que as pessoas fazem de relações homossexuais, e
ainda mais de problemas com a identidade sexual. Ruka retrata o verdadeiro
sofrimento e angústia que realmente é alguém não se reconhecer no corpo que
tem, não tem nada de romance ou naturalidade na questão. Inclusive quando
Michiru descobre os sentimentos que Ruka tem em relação a ela, fica
transtornada e confusa, pois não vê possibilidade de corresponder os
sentimentos, mesmo ainda nutrindo por ela o amor próprio da amizade. Então aos
fãs de relações lésbicas que esperam ver duas mulheres se agarrando, podem
tirar o cavalinho da chuva.. hehe.. a série retrata os sofrimentos e angústias
do assunto, e não o cenário idealizado que muitas pessoas insistem em pregar.
Os personagens de Eri e de Takeru também trazem problemas complicados
a tona, ambos tem seus próprios dilemas e angústias para resolver mas são peças
fundamentais para o caminhar das histórias alheias.
Inclusive Takeru e Ruka protagonizaram uma das cenas mais
lindas e emocionantes da série: quando ele, após Ruka confidencializar seu
problema via carta, larga tudo e sai correndo até encontrá-la. Cena
lindíssima e emocionante, passa perfeitamente o sofrimento e o medo
de alguém que não se sente digna de aceitação, e como é libertador quando outra
pessoa lhe garante que é amada, mesmo conhecendo a verdade.
No final das contas todas as crises humanas tocam na questão... a necessidade
de ser aceito e amado não pelo que é, mas apesar do que se é.
Não é uma série para se assistir por divertimento ou mesmo para passar o tempo.
História pesada e ao mesmo tempo envolvente, serve muito bem como forma de
sensibilizar e lançar um olhar mais atento e humano para os problemas e dores
tão recorrentes em nossa sociedade mas ignorados e marginalizados.
Os fãs do adorável e agradabilíssimo Nodame Cantabile que se
aventurarem a assistir esse drama (e "drama" com "D"
maiúsculo.. hehe) vão ter uma deliciosa surpresa ao encontrar 3 atores que
atuaram em Nodame Cantabile: Mizukawa Asami, Nagayama Eita e claro, Ueno Juri.
Todos os atores com atuações impecáveis, um elenco realmente excelente!
Apesar de não ser o gênero que aprecio, não há como negar a qualidade dessa
série. É muito bom quando obras procuram explorar temas delicados de maneira
franca, sem apologias e fantasias.
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