Anime de 2005... Sem dúvida tem um visual bastante
interessante. A animação tem momentos de altos e baixos, mas a forma como se
apresenta é bastante atraente.. até o traço que antigamente não tinha me
agradado, mostrou-se muito bom. A abertura, encerramento, forma como são
retratados os momentos de humor e a trilha sonora também são muitíssimo
agradáveis...música de encerramento bem gostosa e contagiante aliado a visual
bastante divertido. O próprio desenvolvimento da história - por mais irritante
que seja - é gradativo e satisfatório.
Em relação a história propriamente dita e os personagens...
vejamos.... Uma coisa realmente o anime é infinitamente superior ao live
action. As ações de Yukari ("Caroline") são bastante coerentes
(coerentes, quer dizer, faz sentido para ela.. não que sejam ações sensatas ou
inteligentes).
Ao contrário do live action (cuja personagem não é convincente) no anime ela
realmente mostra para que veio. E ela veio pra irritar, minha gente. Irritar
muito!
George também se mostra muito mais consistente que a versão live.. e tão
irritante quanto a protagonista. Os demais personagens são satisfatórios. O que
complica mesmo é a protagonista porque.. ora, ela é a protagonista. Hahahahah
Essa menina é complicada... tudo bem que viver sob pressão
de ter sucesso nos estudos é quase enlouquecedor, mas não justifica a série de
decisões irresponsáveis e desmioladas dessa garota.. ainda mais com 17 anos.
Faltar com suas responsabilidades na escola (e pior, nas vésperas de se formar,
na reta final), ser incapaz de comunicar seus atos de maneira clara para a
família, culpando todos (exceto a si), abandonando a escola, enfim.. é uma
sucessão de asneiras que dá raiva.... mas isso nem é o pior.. o pior é a forma
romantizada que isso se apresenta.
Garota, se você seguir o que essa cidadã fez, na vida real, sabe onde tu vai
parar???? Com certeza não será uma modelo internacional famosa, isso eu te
garanto.
Paradise Kiss acabou se tornando mais um exemplar daquela
fórmula de história "adolescente revoltado sem causa - ou pelo menos não
com causas suficientes para tal - se comporta do jeito que lhe parece mais
conveniente e mesmo assim, acaba conquistando seus objetivos".
Meninada, a vida não é assim. Se você se comportar como um cavalo, a tendência
é que você morra pastando. Jovens, se vocês desrespeitarem seus pais, as coisas
dificilmente vão se ajeitar por si só, desrespeito só gera feridas que podem
levar muito, muito tempo para cicatrizar. Adolescentes, não invertam os
valores, coloquem a família na frente dos amigos, porque por mais amados que os
amigos são - e de fato há amigos mais chegados que um irmão - há o dever moral
de respeitar e considerar aqueles mais velhos que vocês e que, acreditem, deixaram
muitas coisas de lado para te beneficiar.
Os amigos são mais fáceis de lidar, porque a relação é entre iguais. Amigos de
verdade incentivam a preservar os laços familiares. Amigos de verdade não
querem tomar lugares mais importantes, eles simplesmente caminham junto.
Mas esse último aspecto não vem muito ao caso em Paradise Kiss.
No anime, ficou mais evidente para mim esse movimento do
adolescente se libertar e querer trilhar seu próprio caminho. Movimento
saudável e esperado para formar um adulto saudável. Mas esse processo costuma
ser retratado da pior maneira possível nas obras de ficção... causando uma
falsa impressão para os jovens que é por ai que a banda toca. Mas não é.
Eu entendo as características da fase da adolescência...
esse momento de ruptura com modelos e busca de sua própria maneira de agir e
pensar. Entretanto, as obras de ficção em geral, em nada contribuem para que os
adolescentes se sintam melhores ou tenham algum modelo interessante para se
confortar e achar um caminho menos traumático possível...
A maioria das obras corroboram com a figura dos pais autoritários e até mesmo
sádicos.. sendo que 99% das vezes os próprios pais estão tão ou mais confusos
diante dessa época do crescimento dos filhos e o mais importante de tudo, quase
sempre são os pais os seres mais desesperados para que os filhos tenham sucesso
e sejam felizes.
Então fica aquela coisa piegas e irritante: pais sendo retratados como sacanas,
omissos, dando assim legitimidade a "revolta" dos adolescentes e toda
sorte de asneiras que possam fazer.
Literariamente eu até compreendo, pois é mais difícil elaborar uma história
onde um jovem continua honrando o papel da família... não estou dizendo
retratar família perfeita. Isso não existe. Mas é evidente que a maioria dos
pais quer e busca, sinceramente, o melhor para os filhos. E nada disso é
mostrado na maioria das obras direcionadas, adivinhem, justamente para o
público adolescente. Na adolescência a gente tem uns surtos que parece que
todos estão contra nós. Essas obras parecem que vem incentivar essa paranoia de
alguns jovens... Não, o mundo não está contra vocês.
Paradise Kiss, assim como outras obras, monta um cenário
onde há a demonização da figura materna, colocada como "a carrasca"
de maneira que justifique um pouco os absurdos que a protagonista do seriado
faz. Acabam montando um cenário contraditório: por um lado, o jovem é adulto
suficiente para tomar suas próprias decisões sem ter que prestar contas ou
pedir permissão para ninguém, por outro, "ele foi levado a isso".
O mais incrível é a sucessão de irresponsabilidades e no final sabe o que
acontece? Nada. Tá tudo bem. A mãe de "Caroline" quase tem que pedir
um favor para que ela termine o ensino médio. Foi a "condição" para
que ela aceitasse a carreira de modelo de Yukari. Ora, me faça o favor.. a mãe
não tem que colocar condição nenhuma. A cabeça de paçoca que deveria ter a
consciência que terminar os estudos simplesmente é o básico que se espera de
alguém que tenha condições para frequentar uma escola. A Yukari se sente tão
adulta assim para impor uma escolha (no caso, trabalhar como modelo) mas para
isso a mãe precisa barganhar uma decisão que é para o próprio bem da filha
(terminar os estudos)?
Me aborrece bastante obras que tratam as figuras maternas e paternas como
sabotadores da vida dos jovens, sendo que ninguém cria um filho para que ele se
dê mal na vida.
Tudo, em todo lugar, conspira para sabotar a figura parental na vida dos
jovens, desmoralizando pai e mãe, incentivando para que esses sejam vistos como
dinossauros estúpidos e sádicos... tudo, em todo lugar, direciona o jovem
buscar seu caminho com outros jovens, jogando no lixo tudo o que os
sustentava até então.
Não é por aí, galera.... o incentivo deve ser ao diálogo com a família, em
primeiro lugar. A família é a base de tudo. A partir dela, vem a busca de novas
influências, e a partir daí, refletir, pensar, elaborar, e traçar seu próprio
caminho. É duro, mas é assim. Que tal incentivar isso? Não, né? Sabe por
que? Porque é difícil. Crescer é difícil. Crescer é difícil rodeado de pessoas
que sinceramente se importam - mesmo que não façam tudo certo, nenhum pai ou
mãe faz. Mas crescer rodeado de gente que não se importa, isso sim é
devastador. E é por esse último caminho que a mídia, em todas as formas,
direciona os jovens.
A roda não precisa ser reinventada. Ouçam seus pais. Ouçam aqueles que te
protegeram até agora, eles não merecem um crédito? E mesmo que aquilo que seus
pais decidirem seja ultrapassado, depois de conversar abertamente, mesmo assim,
decida honrar seu pai e mãe. Decida respeitar suas opiniões porque todo filho
deve isso aos seus pais. "Olha, eu não concordo com o que você está
dizendo mas eu decido respeitar a sua decisão porque eu reconheço a sua autoridade
na minha vida". Quer mostrar que está crescendo? Busque alcançar esse tipo
de comportamento, porque fazer birra e forçar para que tudo seja do seu jeito,
isso é comportamento da primeira infância. Suportar as frustrações e fazer o
que é o certo, a despeito de seus próprios desejos, é ter “personalidade forte”.
Que verdadeira revolução isso seria, hein? Muralhas seriam postas ao chão. Para
andar muitos metros, quase sempre temos que dar alguns passos para trás.
Reconhecer o valor, a importância da opinião, da postura de alguém (no caso,
pais), não quer dizer que você esteja se depreciando. Não meça forças
contra alguém que não está na sua vida para ser seu adversário, mas sim está
para ser aquele que te ajudará a crescer. Valorize as figuras de
autoridade que Deus colocou na vida de vocês. Não só por respeito ao outro, mas
porque assim muitas feridas serão evitadas em vocês mesmos.
Mas voltando para Paradise Kiss....eu nem sei porque eu estou filosofando tanto
para falar desse anime... mas acho que o cerne da questão que envolve Parakiss
é esse mesmo... adolescente que se sente sufocada e controlada pelas supostas
escolhas da mãe acaba chutando o balde quando vê a chance de se envolver em
algo fora de sua realidade - tanto estudantil (ser modelo ao invés de terminar
os estudos) como sentimental (envolver-se com um homem ao invés de estar
sozinha). E faz toda essa reviravolta mentindo para a família, desafiando a
mãe, culpando a todos e... tudo bem! Ela, no final, se torna uma mega modelo.
Ai ai, complicado. Que mensagem mais truncada isso deixa nas mentes mais
fragilizadas, hein...
Mas beleza, vamos aos furos da história.
Eu gostaria que alguém que tenha lido o mangá me esclarecesse a dúvida que não
quer calar... afinal, como é que termina?
No anime, Caroline e George se separam. Dez anos depois, Caroline - agora super
modelo - diz que no mês seguinte se casará. Na lua de mel, irão para os EUA
assistir um show onde o desing do figurino é o George. "Mesmo sendo uma
comédia, eu sei que irei chorar" by Caroline. Fim.
No live-action, Caroline e George se separam. Três anos depois, Caroline -
agora super modelo - em um trabalho nos EUA se depara com um cartaz de um show
onde o desing do figurino é feito pelo George. Eles conseguem se encontrar e
vivem felizes para sempre. Fim.
No mangá, qual é o final? Caroline tem casamento marcado mesmo? Eu não quero
crer que ela vai deixar o marido para ficar com o George... se ama outro, não
case sua vagabunda. (desculpem, não resisti.. heheh). Qual é o final do mangá,
alguém pode me dizer????
No mais, o anime é isso ai.... censura 18 anos, já que tem várias insinuações e
uma ou outra cena de sexo... não é algo que eu indique para alguém.. para o
público infantil, tema muito adulto... para o público jovem, não tem nada para
acrescentar de bom e prático para a vida (a não ser aquele sentimento
adolescente de se espelhar num personagem que está realizando todas as suas
vontades "secretas")... para o público adulto, esse drama da
personagem principal é cansativo demais e pouco frutífero. Embora, acrescento,
Yukari é muito bem construída... mas (sempre tem um "mas"), a
vida não é assim, baby.
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