* o comentário em questão refere-se a um episódio
transmitido em maio de 2013*
Não adianta.. eu não sou adepta a visão derrotista que
"Se é feito no Brasil, não presta". Eu admito coisas maravilhosas do
povo brasileiro, mas parece que se tratando de jornalismo, o Brasil precisa
ainda comer muito arroz e feijão.
A proposta de "O infiltrado" é interessante. Um
jornalista fazer parte de determinados universos e relatar suas
experiências.
O programa de estréia chamou-se "Evangelismo". Nos
detalhes, é esclarecido que se tratava da "Igreja Evangélica".
Poderia ser bem interessante o que viria pela frente, mas o que assisti foi um
show tão tacanha onde "o jornalista" conduziu o tema de uma tão
absurdamente estreita de ideias que não existe outra alternativa: Ou o
jornalista e/ou responsáveis pelo roteiro são incrivelmente ignorantes ou o
programa é pau mandado para desmoralizar a Igreja Evangélica.
Mas como dizem, vamos por partes.
O desconhecimento do assunto já vem no tema.
"Evangelismo" pressupõe o ato de Evangelizar. Ora, isso está na
esfera do Cristianismo, e não é exclusividade dos Evangélicos. Toda igreja
cristã é comprometida com o Evangelismo, que é o compromisso de propagar o
Evangelho, ou seja, os princípios cristãos. Mas como isso é feito, nas
diferentes igrejas cristãs, não foi o tema. O tema do programa, na verdade, não
era "Evangelismo", mas sim "Igreja Evangélica".
Talvez essa confusão de palavras e conceitos foi provocada
pela ignorância dos jornalistas ou para vincular de alguma forma o tema
"Evangelismo" (maneira ampla) com a 1 hora de escrotice que foi
transmitido.
O roteiro desse episódio de "O infiltrado" foi
bizarro:
O jornalista Fred M. Paiva, declaradamente ateu (posição
pessoal dele) decide abrir uma igreja, pois conclui "brilhantemente"
que isso o faria entender a "igreja evangélica". Essa premissa
bizarra e desvirtuada já foi um mal presságio do que viria adiante.
Ficou claro que a "Igreja Evangélica", desde o
início do capítulo da série, é considerada um negócio onde "um bando de
pessoas ferradas entregam o dízimo de sua renda para o pastor".
Considerando que os produtores de "O infiltrado"
tenham mesmo essa ideia, é sabido que até em grandes empresas, para entender do
negócio, gestores e diretoria são incentivados a compreender as diversas
funções da empresa, especialmente as funções mais básicas e servis.
Se a "Igreja Evangélica" é um negócio, e se essa
visão e a intenção dos produtores de "O Infiltrado" fossem sinceras e
legítimas, porque não colocar Fred M. Paiva como um "obreiro" de uma
denominação Evangélica qualquer? Coloque-o como porteiro, a posição que estaria
mais próxima das pessoas que compõe a igreja. Coloque-o como participante ativo
de todos os cargos da igreja, ai sim, ele entenderia um pouquinho como a
"organização igreja" se organiza e de fato, impacta a sociedade.
Até eu, que não sou jornalista, consigo pensar em um roteiro
mais decente: Por meio dos diversos cargos de uma igreja, o jornalista tomaria
contato com as histórias pessoais e o verdadeiro impacto e transformação de
vidas.
Mas isso não é interesse dos produtores de "O
infiltrado". Porque seria do interesse mostrar pessoas que abdicam de seu
tempo e recursos para atender desconhecidos que buscam ajuda?
O que seria a posição mais honesta e profissional de "O
infiltrado"?
A igreja evangélica é multi denominacional. É muito
diversificada. Como alguém quer entender um universo se nem sequer vê (e
principalmente, finge não ver) as diferenças organizacionais? Nem sequer foi
apresentado um mínimo panorama histórico e doutrinário, erro gravíssimo, absurdo
e estúpido.
Observado isso, escolha uma denominação. Uma igreja. Aí sim,
infiltre-se.
Atue na área infantil. Como a igreja cuida de suas crianças?
Atue na área jovem da igreja. O que é ser jovem evangélico?Atue na área adulta
da igreja. Como os pastores cuidam e atendem os adultos da igreja. Atue nas
reuniões promovidas para cada público da igreja. Atue nas ações sociais
promovidas na igreja. Acompanhe cada membro da igreja que se dedica a visitar
pessoas em casa, evangelizar nas prisões, fazer trabalho em clínicas de
recuperação de álcool e drogas. A coisa mais abundante em igrejas evangélicas
são serviços sociais. E principalmente, dê um pulinho no campo das Missões.
Como os dízimos e ofertas, que foram colocados como enriquecedores de pastores,
são usados na verdade para manutenção da estrutura da igreja e missões. Como
centenas de pastores não são somente pastores, mas possuem profissões
seculares. Passe uma hora na companhia de um missionário. Milhares de Igrejas
Evangélicas sustentam missionários e suas famílias em diversas partes do mundo,
inclusive onde a perseguição ao Cristianismo é ferrenha, punida com morte.
Visite um missionário que atua em países onde é proibido ser Cristão, como as
igrejas evangélicas brasileiras atuam e apoiam trabalhos para sustentar e dar
apoio a cristãos perseguidos. E tantos e tantos trabalhos onde há pessoas
competentes, sérias, comprometidas e íntegras.
Mas nada disso interessa ao "Infiltrado", não?
O que é mais interessante? Afrontar a sociedade e colocar
todos os evangélicos dentro de uma caixa com a etiqueta "otários" do
lado. Porque Fred M. Paiva declarou tão incessantemente que era ateu. E sua
missão passou a ser fundar uma igreja evangélica? A mensagem é clara: "ô
seus crentes babacas! até ateu dirige igreja! Você são uns enganados!"
E existe isso? Claro que sim. Tem todo tipo de gente em todo
lugar. Mas toda igreja evangélica é assim? O universo da igreja evangélica é
assim? Me poupem.
Li alguns comentários que as pessoas disseram que o cara
(Fred M. Paiva) é ateu, o que ele entende para fazer uma reportagem sobre a
Igreja Evangélica. Eu discordo. É indiferente as convicções religiosas de
uma pessoa quando esta é profissional. Jornalismo deveria ser imparcial,
mostrar todos os lados da questão, não ser influenciado por questões pessoais
do jornalista A ou B. Creio que um ateu poderia conduzir brilhantemente um
seriado sobre religiões, por exemplo. Basicamente é história, é relatar os
fatos, jogar as cartas na mesa. O que você pensa, pessoalmente, não
convém. A reportagem é sobre o tema, não sobre você. Tá faltando isso
para uma parcela da mídia brasileira. Bando de vendidos e pau mandados,
fabricam notícia e seriados para acalentar interesses de outros, sem o mínimo
de comprometimento para mostrar como as coisas realmente são.
Qual foi a conclusão de "O infiltrado", capítulo
de estréia, "Evangelismo"? Foi essa: A igreja evangélica é formada
por pessoas desgraçadas que entregam todo o mês parte de seu salário para o
pastor em troca de um pouco de paz.
Fred Melo Paiva deveria sentir vergonha de assinar em baixo
de uma análise tão parcial quanto essa.
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