Haou Airen (mangá)


Tem algumas canoas furadas que a gente embarca sem saber. Outras, a gente desconfia mas mesmo assim entra. Esse último foi o meu caso. 
O aviso "mangá não recomendado para menos de 18 anos" era um mau sinal. Cá eu pensei com meus botões "Ora.. a sinopse parece inofensiva. A classificação 18 anos deve ser alguma cena mais picante e só". Ledo engano. 
Dos 9 volumes, li apenas o primeiro e sabem? Chega. É uma mistura de Crepúsculo e Cinquenta tons de cinza. Uma versão pornô para pré-adolescentes que não querem admitir que estão afim de ler material pornográfico, então mascaram com uma história tão porca que ficaria mais decente se eliminassem qualquer enredo e focassem só em sexo. Apesar da classificação ser 18 anos, é impossível que alguém com  mais de 18 anos considere esse material com alguma qualidade.
A personagem principal é uma estudante do ensino médio, chamada Kurumi. Para compor (e justificar) essa personagem, a autora caracterizou-a quase como uma mártir. Sem pai, é ela quem sustenta a casa, afinal a mãe sempre vive doente e para piorar a situação, Kurumi possui dois irmãos mais novos que também moram junto. Então fica aquela cena clássica: Kurumi saindo do trabalho tarde, grata porque o dono da loja em que trabalha lhe deu alguma comida que sobrou.. feliz da vida, ela volta para casa, segurando a comida e tranquila pois a mãe e os irmãos terão o que comer na manhã seguinte. Ô meu Deus do céu.
Em uma dessas noites, ela se depara com um homem lindo e misterioso aparentemente em fuga e ferido. Essa nossa personagem com um parafuso a menos, como não poderia deixar de ser, fica encantada com o cidadão, mesmo depois dele ameaçá-la de estupro e roubar-lhe um beijo (ele a beijo para que ela não gritasse... faça-me o favor......). Como se não bastasse, Kurumi o leva para casa e cuida do seu ferimento. Depois de outros beijos, desmaia e na manhã seguinte, acorda atordoada. 
Depois de alguns dias, na porta da escola, ela é praticamente sequestrada por homens de terno em um carro importado. Ela desmaia de novo. Acorda num voo para Hong Kong. O tal homem misterioso na verdade é líder da máfia, o mais phodástico e absoluto magnânimo, "rico pra caraio", mega plus turbo, macho men, ui ui ui: Hakuron. E como não poderia deixar de ser...... ele está apaixonado por ela. Ou diz estar, sei la se "você será minha esposa e eu sempre tenho tudo o que eu quero, ouviu?" pode ser considerado como "afeição". 
Eu poderia ficar aqui descrevendo todas as cenas cretinas e clichês, mas eu não tenho paciência para isso. Kurumi a cada desmando e grosseria de Hakuron, fica cada vez mais encantada e apaixonada. 
Hakuron, por sua vez, é de extremos. Em um momento se mostra um verdadeiro puto. No outro, não. 
Então fica parecendo aquela coisa meio filho da mãe, do tipo.. o cara é um assassino, líder da máfia, mata pessoas como se fosse moscas, tem um passado traumático, e a mocinha olhando tudo isso se sente privilegiada por alguma afeição que ele demonstra para com ela (Sim! Ela chega a falar "com tantas mulheres que ele pode escolher, tenho sorte por ele ficar comigo".. ou coisa do gênero). Ela também tem reações absurdas como, quando ele fala "a primeira pessoa que eu matei foi o meu pai quando eu tinha 14 anos". Sabem o que ela diz? "Deve ter sido doloroso matar seu pai". 
PELAMOR DE DEUSSSSS. Quem em sã consciência faz uma observação dessas depois de uma revelação assim?!?!?!?!?!
E é claro que a frase supra sumo do clichê deveria partir dele, né? O que ele diz? "Kurumi............ você deve ficar o mais longe de mim....eu não sirvo para você"................ Pronto. Se pudesse, Kurumi dava para ele naquela hora (alias, o volume todo ela tá louca para isso mas não conseguiu pelo menos até o capítulo 5).
O mais engraçado é que essa piriguete travestida de santa não presta nem para dar um telefonema para a mãe enfartada lá no Japão. Tem a oportunidade de voltar para o país mas joga tudo para cima para ficar com o chefe da máfia. Uma semana atrás dava graças a Deus por ganhar comida para que a mãe e os irmãos menores tivessem café da manhã, agora tá beleza passar duas noites se esfregando com um homem desconhecido (cuja única coisa que ela conhece é que ele é um mafioso assassino). Agora a mãe doente e os irmãos não precisam comer, né? 
Só falta algum fã me chamar de moralista....não precisa nem ser moralista para pontuar uma coisa dessa.. basta ter o mínimo de comprometimento com o enredo e construção do personagem. A guria que se presta a sacrificar-se tanto em prol da família, não iria jogar tudo para cima dessa forma. A menos que estivesse em surto ou, o que me parece na história, tenha entrado no cio.
Mas tudo bem... para o contexto, é compreensível que ela não tenha preocupação nenhuma e queira "viver sua história de paixão", a autora não está preocupada com esses furos, o enredo só é uma justificativa para cenas de violência sexual e uma personagem feminina "comum e sem atrativos", de uma hora para a outra, ser objeto de prazer de um homem poderoso e temido. Deve ser esse tipo de fantasia que a autora quer alimentar na meninada. 
Resumindo o primeiro volume é isso. Garota com vida sofrida encontra o "seu príncipe encantado" que na verdade é um homem cruel e filho da mãe, mas por alguma razão desconhecida ele se apaixona por ela e começa a revelar todos os seus segredos para uma garota colegial que não tem nada a oferecer. Acho que o lance que encanta as meninas é isso... o homem malvado, temido e implacável com todos, mas só com ela "abre seu coração". Ou coisa do gênero.
Repleto de cenas exageradas e clichês que dão náusea, mangá voltado as meninas que estão com os hormônios a flor da pele, que querem dar uma boa olhada em material pornográfico mas sem tanta dor na consciência, pois tem um enredo medíocre que tenta justificar a putaria contida. 
É amados... Meia hora da minha vida jogada no lixo. Confiram se quiserem passar raiva e vergonha alheia (é sério, tem tanta cena clichê que eu até perdi as contas de quantas vezes eu falei "cara, eu não acredito" enquanto eu lia esse material). Se você tem alguma coisa melhor para fazer, como simplesmente dormir ou lavar a louça, vão lá fazer. 

Deixem Haou Airen esquecido, assim como merece toda literatura de banheiro.

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