A pequena livraria dos sonhos - Jenny Colgan (livro)


Trata-se de um romance contemporâneo...  Seus personagens (que vivem na Inglaterra e Escócia) trazem o comportamento típico de nossos tempos (redes sociais, relacionamentos por tinder, e coisas do gênero). Nina é uma bibliotecária que perde o emprego, muda para a Escócia, compra uma van imensa para transforma-la em uma livraria itinerante. Claro que todo esse processo foi bastante penoso, cheio de medos, crises existenciais, contratempos, idas e vindas, mas culminando em satisfação e alegria.

Essa temática principal é descrita em um estilo extremamente leve e fluido, a típica leitura para a pessoa espairecer, imaginando as lindas paisagens das Terras Altas na Escócia (maravilhoso), descritas em um tom leve, e imaginar as etéreas festas celebrando solstícios, com toda aquele apelo panteísta que remete a “mãe-Terra” etc. Leia aquela descrição da festa ouvindo Enya e vá ser feliz.

Eu realmente gostei desses ares...se não tivesse os problemas (que comentarei no final da publicação) certamente seria um livro que eu indicaria para qualquer faixa etária sem o menor medo ou constrangimento, porque afinal, é interessante, recorfortante e inspirador conhecer a cada página uma jovem de 25 anos conquistando seu sonho profissional de ter uma pequena livraria a medida que ela desenvolve amizades e gradativamente conhece os diversos nuances das diferenças culturais e experiências das Terras Altas. Também os “livros” são tratados como importantes protagonistas. O talento de Nina é indicar de forma certeira títulos adequados para cada tipo de leitor, o que em maior ou menor grau sempre provocam emoções e transformações na vida das pessoa (algumas situações até que bem forçadas mas tudo bem.. hehehe).

Mas, oh Jenny Colgan.... quando os deslizes se mostram um verdadeiro capotamento dos mais catastróficos, realmente não dá para relevar. Apesar de inúmeros pontos positivos nesta obra, há coisas que realmente são imperdoáveis nesse livro.

Eu já tinha decidido deixar de lado o comportamento sexual vulgar da melhor amiga (afinal como já mencionei, é o preço a pagar por lidar com personagens tipicamente atuais). O fato da Nina também estar com foguinho na bunda em relação ao maquinista caladão, também poderia ser perdoável pelos mesmos motivos. Mas nas últimas 50 páginas do livro, a boa história até então desenvolvida acaba sendo estragada por alguns fatores.

Nina (que já não era muito esperta emocionalmente) acaba piorando MUITO no final do livro e se comportando como uma perfeita adolescente também em outras áreas da vida. Ver uma mulher de 25 anos ter questionamentos e comportamentos somente toleráveis em uma menina de 13 anos é muito irritante.

Não contente de assumir um comportamento juvenil nas decisões emocionais, mostra-se completamente hipócrita ao lidar com a questão social da menina Ainslee (uma jovenzinha que era sua ajudante na livraria...). Assumiu o papel de “salvadora da pátria” chamando o serviço social para a família da garota (em uma solução completamente instantânea, simplista e improvável) além de dar “lição de moral” no fazendeiro Lennox, acusando-o de pensar somente em si. (Detalhe, a “altruísta” Nina em diveeersas vezes colocou os outros em confusões simplesmente por benefício próprio, o maquinista que perdeu o emprego e foi deportado que o diga).

Mas o que realmente incomodou nesse final de livro foi a inabilidade da autora de conhecer o comportamento humano básico.

Algumas falas do Lennox (senhorio e depois, namoradinho de Nina) nunca que brotariam da mente de um homem como ele foi descrito. Claramente nasceram da mente feminina de uma autora que romanticamente escreveu o que uma adolescente espera ler. Ou, na pior das hipóteses, a autora realmente acha verossímil um homem como o Lennox falar daquele jeito. Nesse momento fiquei bastante em dúvida sobre as intenções da autora quanto ao seu público alvo. Se os 2/3 do livro agradariam uma grande gama de pessoas, o último terço parecia estar sendo escrito para leitoras de crepúsculo e adoradores de Anastasia (de 50 tons de cinza).

Tudo descambou quando Lennox e Nina assumem um romance, ou mais precisamente, assumem fazerem sexo... (mas antes do primeiro ato acontecer, ele teve que fazer um discurso expressando o quanto Nina é maravilhosa e tal.. o que foi incrivelmente vergonhoso) A partir desse constrangimento totalmente incongruente do Lennox, o “relacionamento” basicamente é sexo: de manhã, a tarde, a noite, no meio do mato, “gritando atrás de uma árvore” e outras coisas totalmente desnecessárias a serem descritas. O engraçado é que tudo se basear em sexo vai de encontro ao discurso inicial.

Mas o que culminou na situação mais absurda que eu já li na minha vida foi o encontro da Nina com a ex esposa de Lennox. (que nem era ex ainda, visto que o processo de divórcio ainda estava correndo...)

Visualizem, minha gente:

A ex-esposa de Lennox, irada, frustrada, com raiva do Lennox, com raiva do casamento ter acabado, querendo um acordo financeiro de uma vez, acaba de descobrir que Nina e Lennox estão se agarrando em todos os lugares sendo que legalmente ele ainda é casado, Nina está usufruindo dos bens que ela deixou na fazenda, está absolutamente magoada pois viu que Lennox apoia Nina em coisas que ela mesmo gostaria de ter tido apoio, com o orgulho ferido, completamente transtornada, triste, magoada, querendo voar no pescoço da Nina e beber seu sangue... abre a van de livros da Nina com desdém e ....... começa a olhar os livros..... começa a admirar a decoração da van (!!!!!!!)................e simplesmente se transforma num anjo alado quando vê cooooomo a van é linda por dentro, como os livros são lindos..

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa pela mor né.

A mulher 15 segundos antes estava possessa. Ela começa a elogiar a van! Ela começa a ELOGIAR a van da NINA!!!!!!! A van da mulher que está dormindo com o marido dela!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Começa a deslizar as mãos com carinho pelos livros (!!!!!!!!!!!!) achando um livro que na infância ela adorava ( !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) ... pergunta para a Nina: “Posso?” ... Nina responde: “claro” ... E ela começa a folhear o livro e relembrar o quanto gostava de ler aquela história.

E tem mais:

As duas começam a conversar.. a Nina começa a dar CONSELHOS sobre o divórcio, sugerir acordo para o Lennox não perder a fazenda!!!!!!!!!!!!!!!! Dai Nina sai da van, Lennox entra na van e conversa com a ex, e fazem um acordo super de boa e resolvem a vida assim ó, em 5 minutinhos.

Vá pra p.q.p......................

Gente, por que essa autora foi cagar desse jeito no livro. Se não é capaz de desenvolver um romance decente, deixa a guria sem ninguém, caramba. Já tinha assunto para 2 volumes o simples fato dela ter se mudado para a Escócia e as diferenças culturais que ela estava vivendo. Se queria desenvolver algo a mais, explora de um jeito decente a família disfuncional da menina ajudante.

Aaaaaa, que raiva viu. Mas sabe, no final das contas acho que o saldo continua sendo positivo só porque eu realmente gosto muito do tema, das descrições da Escócia, etc. Seria realmente perfeito se os personagens tivessem tido uma constância até o fim. Mas como não tiveram, fazer o que.  Foi muito triste em uma história tão bonitinha, cheia de potencial para ser explorada e repleta de descrições legais, ter esse aspecto “romântico” totalmente bizarro, sem nenhuma congruência e soluções absolutamente improváveis.

Mas mesmo com esses aspectos totalmente absurdos (que não incomodarão muitas pessoas), o livro está entre os meus queridinhos pq ele é realmente gostoso de ler... me diverti imaginando os cenários e as situações, etc...  e eu acho que é o primeiro romance realmente contemporâneo que eu leio, com essa linguagem bastante informal... então saldo positivo! Terminei o livro com vontade de xingar a autora mas com uma sensação boa! hehehehehe

Ballroom e Youkoso / Welcome to the Ballroom (Anime)



Depois de um looooongo tempo na “prateleira”, pego Ballroom para assistir. Eu geralmente gosto de assistir aos animes depois de finalizados, pois é um masoquismo acompanhar os animes da temporada atual. Eu gosto de assistir uns 5 episódios de uma vez, não 1 por semana
Ballroom é um anime de 2017 e recentemente descobri que se trata de uma adaptação de um mangá... aparentemente ainda em lançamento (desde 2011).. o que faz bastante sentido porque a história pode ser estendida ad infinitum.
Os poucos comentários que eu vi sobre a série falavam sobre “personagens com pescoço enorme” e “visual impecável”. Gente. Não tem como conciliar essas duas informações. Mas ok.
Separei pois achei a temática interessante: dança competitiva. É, eu sou dessas que se interessa por coisas aleatórias e incomuns.
Resumo do enredo: rapaz (colegial, pra variar) descobre o mundo da dança competitiva e começa a aprender, gostar e competir. Ao longo dos 24 episódios são abordados seu aprendizado (constante) e os relacionamentos dos diversos personagens (amigos, companheira de dança e rivais) Fim.

É um anime bastante difícil de comentar porque ele me foi paradoxal (mais um, né). Por um lado, eu achei muito acima da média em termos de conteúdo... facilmente você tem vontade de assistir vários episódios de uma vez porque a trama, além de ser muito boa, quebra certas expectativas e clichês (alguns, nem todos hehe). Por outro, ele foi bastante constrangedor. O constrangimento vem por duas razões: feiura e exagero.
E é claro que a gente tem que meter o sarrafo antes de dar beijinho.
Gente, que design horrível. Eu estava preparada para lidar com longos pescoços e rostos de gosto duvidoso, mas os recursos utilizados para intensificar sentimentos, sensações e a caralhada a 4 beiram ao ridículo. Estou ciente que se trata de estilo de arte, e tals... mas é um estilo feio. É arte, sem dúvida, mas é feia. E feio não é relativo. Feio é feio mesmo.
“Ai mas eu acho bonito”.
Ta bom, você pode gostar do feio mas continua sendo feio. Beleza vem de métrica, harmonia, enfim... (Antes de me atazanar a vida sobre relativismo do belo, aconselho assistir “Why beauty matters – por que a beleza importa” Roger Scruton). Voltando aos personagens medonhos de Ballroom: Eles não são medonhos todo o tempo. Na maior parte do tempo o design e animações são ok.
O “problema” é quando o autor resolve tentar expressar todos aqueles sentimentos, emoções e tensão que envolvem a cena e nisso acaba deformando os personagens.
Literalmente.
Sorrisos ficam exagerados beirando a insanidade. Se a postura da mulher na dança é estar inclinada para atrás, por alguma razão o autor acha que fica legal a mulher quase encostar a nuca na própria bunda. Se o personagem está sob tensão e raiva, o rosto é alongado e rabiscado, parecendo o Pikachu encapetado! E assim vai.
Nesses momentos o negócio fica horrível. Dói. Constrange de tão bizarro. É um horror. Péssimo. É aquela coisa que ficamos com vergonha de assistir (tipo o Hyoga de Cisne sendo aquecido pelo Shun de Andrômeda... Pode isso, Arnaldo?.. não, não pode, mas japonês sabe como é, não tem limite, parece até brasileiro. Sigamos. )
Por outro lado, é um deleite visual quando a animação está “sob controle”. Rotinas, treinos e aulas retratadas.. é muito bonita e fluida a animação. As posturas e movimentos são muito bonitos.
O problema é quando os personagens “se empolgam”, e o autor não sabe mais o que fazer para retratar “tanto êxtase” na cena, dai transforma o personagem numa curupira sob efeito de heroína.


Vadre retro Satana!

Passados os problemas visuais, temos a boa surpresa que é o enredo.
Há algumas quebras de expectativas entre a primeira e segunda metade do anime. No começo parece que o personagem principal (Fujita) fará um par romântico com uma colega da escola também dançarina. Isso não se concretiza e a relação acaba se tornando basicamente admiração por ela (e sua dança). É bastante interessante o amadurecimento de Fujita em dois aspectos: auto conhecimento (expectativas sobre si e outros) e seu desenvolvimento como dançarino (que acaba se mesclando com o auto conhecimento).
É bastante realista as frustrações (e vergonhas) que envolve o aprendizado de algo novo e principalmente como é difícil avançar no aperfeiçoamento, mesmo tento certo talento em alguns aspectos.. de modo geral a mensagem que fica é que não acontecerão grandes milagres se você não investir tempo e esforço naquilo.
A partir do episódio 12 há uma certa mudança de foco no anime, incluindo novos personagens e o aperfeiçoamento de Fujita como dançarino juntamente com sua nova parceira (que diga-se de passagem é uma caixa de problemas).
Até o episódio 24 é praticamente uma terapia de casal entre os dois, totalmente diferentes, com visões e motivações diferentes tentando chegar em um objetivo em comum. Acho que nesse arco o anime fica mais refinado, suas analogias são mais interessantes e apesar de alguns clichês (sempre tem um personagem rico que oferece a casa de campo para acampamento de verão...) os dramas e problemas são bem consistentes...
Inclusive são tão consistentes que, como mencionei ali em cima sobre terapia de casal, os problemas de Fujita com sua parceira indomável ilustram bem a tensão existente do relacionamento entre homens e mulheres. E aqui tenho licença para puxar brasa para meu assado: Problemas existentes dentro de um casamento cristão.  


Dança de salão parece-me que ilustra perfeitamente o ideal de um dos aspectos do casamento cristão: é o homem que lidera, e em sua liderança assume o papel de moldura para o quadro que é a mulher. Quando a mulher assume esse papel, vira uma completa bagunça disfuncional. Uma eterna disputa entre o casal que resulta somente em frustração. Brilhantemente retratado entre Fujita e sua parceira de dança.
Que coisa mais bem feita o simbolismo feito no anime, durante uma profunda crise entre o casal de dançarinos, os personagens são retratados como crianças. A mulher, porém, tem aparência mais velha. O homem, mais infantil, apresenta-se incapaz de abrir as portas necessárias. A mulher espera que o homem tome a frente e abra a porta. O homem se mostra incapaz, com medo, e não o faz. Acontece o que ocorre quase sempre na vida real. A mulher toma frente e vai assumindo papéis que não são dela, arrombando portas que não cabe a ela.
A ansiedade e frustração femininas e a imaturidade e medo masculinas. Como uma dupla dessa pode se coordenar e dançar juntos.Lindo, lindo, lindo. Brilhante.

Mas sempre vai aparecer alguém enaltecendo esse tipo de personagem feminina (ou atitude feminina na vida real) como sendo o ideal de "força", quebra de padrões e a cacetada a 4. Mesmo que não passe de uma locomotiva desgovernada rumo ao precipício destruindo tudo e todos no caminho, e se orgulhando disso. 
É o mesmo tipo de pessoa que considera "não levar desaforo para casa", comportamento birrento, turrão e mimado como "personalidade forte". Sendo que ter uma personalidade forte seria justamente aquele que aguenta a frustração e permanece firme suportando adversidades. É, meu anjo, você não tem personalidade forte não. Quando você despiroca, impõe a todo custo sua opinião e tem ataque de pelanca quando é contrariado, você só está sendo fraco e um chato do kct mesmo. 

Mas voltando ao Ballroom e Youkoso. Saldo geral: positivo, mesmo com todos os problemas relatados. Em uma segunda temporada eu certamente assistiria. Espero que algum dia ela venha.




Fruit Basket 2020 - 1 e 2 temporadas (Anime)

 


Eu tinha comentado aqui no blog (no tempo em que o mundo era mundo e não precisávamos andar com uma calcinha na cara... hehe) as minhas primeiras impressões sobre a primeira temporada do remake de Fruit Basket. Agora, quando acabo de assistir o episódio 25 da segunda temporada, me senti na obrigação de fazer um boca a boca no blog ressuscitando-o para deixar registrado como eu estou me sentindo feliz com esse remake. Extremamente feliz. Finalmente um remake que está estratosfericamente acima da primeira animação, e em relação a arte do mangá, está há anos luz.

Claro que os fãs incondicionais de Takaya-sensei espumarão. Mas é aquela coisa, gente. Eu amo as histórias dessa mulher, mas o traço dela é muito feio. Ou eu sou muito lesada, pois havia momentos no mangá que eu até me confundia qual personagem era qual, porque para diferencia-los, só havia comprimento do cabelo e roupas diferentes. Tudo tinha o mesmo rosto. Era terrível. Mas falemos de coisas boas.

Obviamente fizeram algumas modificações na ordem e maneira de alguns acontecimentos em relação ao mangá, mas até o momento, estou muito feliz com tudo. Em alguns aspecto o remake está mais rico que o próprio mangá.

Depois de 20 anos, algumas sentimentos continuam: Hatori continua sendo meu personagem favorito. Akito continua sendo a sarna que sempre foi. Na verdade o remake a tornaram ainda mais indesculpável.

Algo realmente novo (para mim) surgiu com o remake: Kureno entrou para minha galeria de personagens desgraçados. Explico. Desgraçado não no sentido de horrível mas no sentido desafortunado: ficar ligado a alguém pelo simples sentimento de pena ou culpa, é uma verdadeira desgraça. Eu não me lembrava bem das motivações dele... então fiquei sinceramente penalizada  ao deixarem tão claro que ele só continua se submetendo a transloucada chefe da família por pena. E depois culpa. E depois por fraqueza e rotina. É uma m*. Coitado.

Toda vez que surge essa questão de culpa envolvendo algum personagem acaba por me penalizar muito. Alias, outra obra que eu amo de Natsuki Takaya é “As estrelas cantam” (Hoshi wa Utou) , que aborda de um jeito muito angustiante o tema culpa. Recomendo a obra, excelente. O design não é tão sofrível como em Fruit Basket, então dá para encarar. Pensando nisso, que coisa maravilhosa seria uma animação de “As estrelas cantam”, não é? Mas tinha que ser com a mesma equipe de Fruit Basket 2019/2020.

Enfim, muito ansiosa, feliz e esperançosa com a terceira e derradeira temporada. Como é bom ver excelentes adaptações, que elevam ainda mais a obra original.

Fruit Basket 2019 - 1 temporada (anime)


Finalmente um remake que deu certo, muito, muito certo!!!! 

Contém SPOILER, não me atazanem. 

Eu sou fã incondicional da obra Fruit Basket.. tenho todos os mangás e acompanhei a animação de 2001. Entretanto, não há como negar que o anime de 2001 deixa a desejar. Primeiro porque não tem final fechado (compreensível para a época, visto que o mangá ainda estava em publicação) e segundo, e mais importante, a animação e design são bem ruinzinhos, para não dizer feios. 

Também temos que considerar que a animação de 2001, na questão de traço, não fica assim tão longe do mangá. Se comparado a arte, a animação de 2001 é mais fiel ao mangá do que a de 2019. 

Não me odeiem, mas o traço de Fruit Basket é feio na maior parte das vezes. Há cenas aqui e ali bem feitas, mas de modo geral não gosto do traço de Natsuya Takaya. É uma das minhas autoras prediletas, amo suas histórias, seu humor, suas anotações no meio do mangá, eu amo essa mulher... mas a arte dela não me agrada. 

Chegamos então a 2019 e anunciam o remake de Fruit Basket. Primeiros designs divulgados eram bons presságios. Depois o murmuro que a nova animação cobrirá toda a obra, informação que corrobora com a nota de “primeira temporada” na abertura nova. E finalmente, depois de mais de 5 episódios lançados, dá para dizer com todas as letras que Fruit Basket 2019 é uma das melhores surpresas para aqueles que como eu, são apaixonados pelos personagens e história mas torciam o nariz para o traço original da obra. 

Além de contar com uma arte bem linda, a animação é fluida, sem aquelas interrupções humorísticas abruptas características da série de 2001. Os personagens são melhor trabalhados, mantiveram as cenas de humor que deram certo e acrescentaram muito mais explicações que só conseguíamos no mangá... por exemplo, a cena em que Yuki e Kyo buscam Tohro na casa do avô está há anos luz melhor do que na animação de 2001. 

Eu estou muitíssima animada para rever o anime muito mais aperfeiçoado dessa vez, e principalmente, quero ver como ficarão as partes que não receberam animação em 2001. Quero muito ver o romance de Hatori e a professora de Tohro, que são meus personagens favoritos da série. Quero ver se vão desenvolver mais a personalidade da Akito, porque até no mangá aqueles dramas e a própria solução para a maldição ficou meio tosca. 

Enfim, estou muito, muito feliz com essa expectativa. Só espero que realmente tenha segunda temporada.. e que não demore demais para lançarem... porque o que me interessa está na segunda temporada.. e até uma terceira, se pensar bem.... Fruit Basket tem bastante assunto, e a adaptação não está correndo nem um pouco até agora. 

Aguardemos!

Clave de Dó maledita


Seguindo os estudos de violoncelo, minha maravilhosa odisseia de prazer e dor que já dura alguns anos, parece que finalmente estou conseguindo ler a clave de Dó sem ter um colapso mental quando ela aparece no meio de uma partitura escrita toda em clave de Fá. 

Leilões na madrugada



Que tipo de ser assiste leilões (e realiza compras!) pela TV de madrugada? Vampiros ricos?

Rabiscando livros (!!!)



Venho de uma família que há um verdadeiro culto para preservar os livros. Todo livro era encapado e nos era ensinado a manusear com todo cuidado e asseio, desde os didáticos até literatura comum. Cresci com isso: lave as mãos, você vai mexer nos livros! Tenho um afeto em manuseá-los, de maneira que riscá-los parecia ferir-me a alma. Alias, vinda de uma família de classe média, tudo envolvia muito cuidado e zelo. Os livros não recebiam atenção especial. Era a atenção comum dada a qualquer outro objeto comprado com muito custo. 

A medida que a vida acadêmica avançava, por um lado entendi o porquê das pessoas acharem prático rabiscarem livros. Comecei a fazer anotações nos famosos “xeroxs” da época da faculdade. Capítulos xerocados não eram tecnicamente livros então, que mal há, não é? Realmente estudar riscando poupa tempo. 

Por outro lado, fervia-me o sangue quando emprestava livros na faculdade e vinham quase vandalizados de tantos riscos. Lá se foram muitas borrachas e tempo apagando rabiscos alheios antes de devolvê-los ao acervo. 

Atualmente o nível da neurose está nesse pé: nunca rabiscos meus livros. 

Acredito que para o processo de aprendizagem mais efetivo, apesar de mais demorado, é preciso passar pela escrita. Então sim, escrevo muito sobre o que estou lendo e guardo as anotações junto com a obra. Eventualmente anoto em post-it e grudo ao longo do livro. É um método híbrido de vandalismo controlado e facilmente reversível. 

Não riscar os livros também me desapega de emprestá-los, afinal poupa o constrangimento generalizado: quem lê minhas anotações pessoais não é golpeado pela minha nudez transcrita em observações. 

Não riscar livros me deixa mais livre sobre o que penso sobre ele. Certa passagem poderá ser lida com outra visão tempos mais tarde. Já peguei anotações e citações que não traduzem atualmente o que penso sobre o assunto. Suspiro aliviada de não ter eternizado isso nas páginas originais da obra. 

Não riscar os livros é um serviço de respeito e cuidado com a próxima pessoa que irá lê-lo. É deixar o campo livre para o próximo leitor se apegar a parte que quiser, sem inconscientemente ler com mais interesse essa ou aquela parte sublinhada. Claro, o livro é seu, você faz o que quiser com ele. Mas não somos eternos e o meu acervo de hoje poderá ser o acervo de outra pessoa daqui há muitos e muitos anos. 

Por fim, não riscar os livros é transferir para outro lugar a sua releitura daquelas linhas. É como construir uma mini obra, a parte, cerrada em outras folhas que poderão ser lidas somente por aqueles autorizados e interessados em fazê-lo. Não escancarar suas impressões para qualquer pessoa ter acesso também é, no final das contas, um ato paradoxal de vaidade.